Por Luciano Rodrigues, Partner da Know2Grow
Tempos houve em que se popularizou a expressão “Quem casa quer casinha”, na senda de um mercado imobiliário em expansão e nas palavras, publicitárias, de Eusébio. Já lá vai meio século. Os arredores das grandes cidades cresciam a olhos vistos, com construção acessível e massiva.
Todos sabemos das dificuldades, nos dias de hoje, para comprar casa. Verdade que nunca foi fácil, que sempre foram precisos sacrifícios e foco, mas é inegável que hoje é mais complicado que para as gerações anteriores. As razões são para cima de muitas, mas podemos condensá-las no bê-á-bá da primeira meia hora de qualquer curso da área financeira: Lei da Oferta e Procura.
Vivemos tempos de enorme procura, por pressões várias decorrentes da imigração, do trabalho remoto, dos nómadas digitais, do turismo ou de Portugal juntar hoje duas gerações a saír de casa dos pais em simultâneo (a crise anterior arrastou muita gente da geração anterior em casa dos pais pelos anos fora).
Por outro lado, do lado da oferta, esta é escassa e cara. Cara porque a maioria da construção que temos está no segmento premium, seja nova ou renovações no centro das cidades. Escassa porque há pouca construção e estivemos uma década praticamente com a construção parada, e porque a maioria da mão-de-obra especializada saiu de Portugal e não voltou. E porque a burocracia envolvida é demorada, e como tempo é dinheiro, há que avançar por projetos que tendo maior margem, permitem amenizar o custo do investimento parado.
Ora, o que é que isto faz? Está bom de ver, se temos muita procura e pouca oferta, eleva ainda mais o valor dos imóveis…
Como é que os Governos podem combater isto? De variadas formas, com muitíssimas medidas, cujo foco deva ser, antes de mais nada, amenizar a procura, esticá-la no espaço e no tempo, e estimular a oferta. Mas convém que os estímulos sejam no sentido certo!
O que me traz aqui é o incentivo à compra de primeira habitação por jovens até aos 35 anos, e não é certamente pela justiça ou equidade de criarmos uma barreira de “nós e os outros”. É tão aberrante, que nem há muito a dizer. O que não consigo, mesmo, compreender nesta medida que oferece isenção de IMT e Imposto de Selo é que ela traz em si mesma (e há-de se juntar a curto prazo a garantia de 15% do Estado para os mesmos jovens) um incremento da procura, sem que haja qualquer estímulo na oferta. Ou seja, cria ainda mais pressão no mercado e, adivinhem lá? Pois, sobem os preços…
Em Agosto, mês da entrada em vigor das isenções de IMT e Imposto de Selo, as compras por jovens até aos 35 anos subiram mais de 30%! Representam mais de metade dos imóveis vendidos em Portugal nesse mês! E já se começa a perceber uma subida de preços nos imóveis abaixo do limite para estas isenções…
It’s the economy, stupid!