Por Luciano Rodrigues, Partner da Know2Grow
O Orçamento de Estado 2025 parece ser certamente o documento que mudará as nossas vidas. Não se fala noutra coisa ao longo dos últimos meses, as TVs fazem diretos em todos os canais a mostrar o passeio nas mãos do Ministro das Finanças entre a Praça do Comércio e São Bento, tiram-se fotos com sorrisos rasgados na entrega do mesmo. Uns dão-no como a panaceia para todos os males, outros veem nele o diabo. Outros ainda, sabem lá o que nele encontram, por se verem num beco sem saída e apenas gritam alternadamente juras de amor e ódio visceral.
No meio disto tudo estamos nós, cidadãos e empresas, a mola real de um país sem uma ideia de para onde quer ir. Uma mole humana que faz tanto quanto pode para que o nosso mundo funcione, que está cá para pagar todas estas contas e só deseja que não mexam muito. Porque, sejamos sinceros, já ninguém sonha com um golpe de asa, com um visionário clarividente que mude as nossas vidas. Mais do que esperar mudanças positivas, damos por nós a esperar que não estraguem muito.
Quando o futuro político do país está em sobressalto por causa de um 1% no IRC, isto diz-nos bem o que andamos a discutir. Nada. Uns retoques fiscais, um pouco a mais aqui, menos um pouco ali, e em termos de política fiscal, é o que há. O investimento público assentará no PRR, andamos a ouvir isto há anos, bem como o cônjuge sempre presente do PRR: a execução (ou a falta dela).
Seja porque motivo for, porque há demoras no lançamento dos projetos, porque há ineficiências gritantes na sua análise ou até porque não há capacidade instalada para execução em termos de obras públicas, a verdade é que já todos percebemos que o PRR jamais será o que poderia ser.
Enquanto isso, continua a sangria no país, especialmente nos mais jovens, muito ou pouco qualificados. Num mundo cada vez mais “pequeno”, a saída de Portugal é a solução óbvia, em especial para os que, sendo mais ou menos qualificados, têm em si audácia, visão e capacidade de assumir e gerir o risco – e isto é tão verdade para um médico como para um servente de obra. Estamos já a perder para o estrangeiro a segunda geração seguida, ficando por cá os pensionistas, uma mão de obra envelhecida, cansada, menos qualificada e não reconvertida, e poucos jovens com vontade de “mudar o mundo”.
Num mundo em revolução digital e convulsão social e política, num país estagnado e com problemas vários (habitação, saúde…) claramente o que nos faz falta é discutir 1% no IRC e birras políticas…
Valha-nos a única coisa de jeito que aprendemos nas últimas décadas: as contas certas vieram para ficar. Ao menos isso.